A Febre Amarela é uma doença infecciosa provocada por um vírus que entra no corpo humano através da picada de mosquitos, a infecção, pode ser prevenida por imunização. Ocorre febre aguda que dura no máximo 12 dias e tem gravidade variável. Veja como é a rotina de coleta de sangue e outros materiais biológicos para exames específicos e inespecíficos no diagnóstico laboratorial da doença.
A maioria dos casos de Febre Amarela FA evolui para uma melhora natural depois de alguns dias, porém, alguns doentes apresentam a forma grave da infecção, na qual, depois de uma aparente melhora, os sintomas voltam a se intensificar e são acompanhados de complicações hemorrágicas e severo comprometimento dos rins e do fígado, requerendo cuidados médicos intensivos – nem sempre suficientes para reverter o quadro.
Febre amarela, exames laboratoriais para diagnóstico
Na verdade é difícil concluir um diagnóstico de febre amarela apenas com base nas manifestações clínicas.
Um histórico de viagem recente para áreas silvestres é importante, pois outras doenças transmitidas por mosquitos também começam de forma semelhante, como malária e dengue.
Para emitir um diagnóstico, o médico necessita de exames de sangue tradicionais, neste caso, inespecíficos, como hemograma, TGO, TGP, uréia creatinina e outros.
Além dos exames inespecíficos, será necessário realizar testes laboratoriais específicos para confirmar o diagnóstico da doença.
Exames inespecíficos para diagnóstico FA
Hemograma
Série Branca – Nos primeiros dias da doença, ocorre leucopenia, de 3.000 a 4.000 células por cm3 com neutropenia e linfocitose.
Podendo ter casos de leucócitos estarem em torno de 1.000 a 2.000 leucócitos/cm3.
Quando o quadro vai progredindo se acentua a leucopenia, salvo nos casos em que ocorre infecção bacteriana, onde podemos encontrar contagens de 15.000 a 20.000 leucócitos.
Série Vermelha – Normalmente se encontra normal, entretanto ocorre casos com sangramento grave em que há queda do hematócrito e da hemoglobina.
Plaquetas – Geralmente teremos valores em torno de 50.000/cm3 de sangue, mas podem apresentar valores ainda mais baixos, uma plaquetopenia mais acentuada.
Velocidade de hemossedimentação VHS: muito baixa, eventualmente zero.
Coagulação
– Normalmente os fatores de coagulação são consumidos e quando dosados apresentam-se alterados, principalmente protrombina, fator VIII e tromboplastina com modificação dos tempos de sangria – TS, e de coagulação – TC.
Bioquímica
– TGO e TGP muito elevados. Bilirrubinas elevadas, principalmente à custa de bilirrubina direta.
Exame de Urina EAS
– Presença de bilirrubina e de hemácias, mas o que é mais evidente é a proteinúria, até valores acima de 500mg/100ml de urina.
Também a densidade da urina pode estar alterada.
Exames específicos para diagnóstico de FA
Os exames inspecíficos ajudam o médico a direcionar seu diagnóstico, mas na realidade o diagnóstico definitivo da febre amarela pode ser feito utilizando-se métodos específicos.
Isolamento do vírus: deve ser realizado em amostras de sangue (colhidas nos primeiros seis dias de doença) ou fígado (biópsia post mortem), a partir do cultivo em células VERO, HELA, clone C6/36 ou clone AP61.
Biologia molecular: o RNA do vírus amarílico pode ser identificado pela técnica de RT-PCR (reverse transcription – polymerase chain reaction) no soro, plasma ou fragmento de tecidos (especialmente fígado) – neste último caso, no exame post mortem.
Pesquisa de anticorpos: os exames sorológicos podem ser realizados pelas técnicas de:
1) Inibição da hemaglutinação.
2) Fixação do complemento (empregado a partir do sétimo dia de doença).
3) Neutralização.
4) MAC-ELISA (capaz de demonstrar anticorpos da classe IgM já na primeira semana), sendo este último o mais empregado pela especificidade e rapidez de execução.
Vale ressaltar que independente do teste sorológico utilizado, o diagnóstico será firmado pela demonstração de aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos específicos, entre as amostras de soro colhidas nas fases aguda e de convalescença da enfermidade.
As principais limitações dos exames sorológicos para a febre amarela incluem a possibilidade de ocorrência de reação cruzada com infecções por outros flavivírus e a não discriminação de anticorpos relacionados a resposta vacinal.
A presença de IgM decorre de infecção recente (2-3 meses) ou atual, deve obter a história clínica completa para a boa interpretação do resultado laboratorial. (febre amarela)
Vale lembrar que a vacinação anti-amarílica também induz a formação de IgM e, por isso, importa conhecer os antecedentes vacinais do caso suspeito.
Detecção de antígenos específicos por imunohistoquímica em tecidos
Em situações que o paciente foi a óbito, e por alguma circunstância não foi coletado amostra de sangue in vivo.
Nestes casos, é possível a detecção de antígenos específicos por imunohistoquímica em tecidos de fígado, rins, coração, baço ou cérebro.
Quando for necessário realizar este procedimento as amostras devem ser coletadas preferencialmente dentro das primeiras oito horas após o óbito.
Duas amostras de tecidos de pelo menos 1 cm3 devem ser obtidas e colocadas em frascos estéreis com tampa rosca.
Amostras acondicionadas e enviadas de duas formas: congelada a -70º C (para isolamento viral) e outra fixada em formalina, à temperatura ambiente (para estudos histopatológicos e/ou detecção de antígenos virais).
Os materiais coletados devem ser encaminhados para os Laboratórios de Referência dos locais de ocorrência dos casos.
Febre amarela, rotinas de coleta de sangue para exames laboratoriais
Segue abaixo rotina para coleta de materiais biológicos para exame e diagnóstico de febre amarela.
Isolamento Viral
- Sangue Obtenção da amostra: punção venosa ou punção intracardíaca (Óbito) – Crianças: 2-5mL Adultos: 10mL – 1° ao 5º dia de doença, armazenar a – 70º C – no Freezer ou nitrogênio liquido, transporte em Nitrogênio líquido ou gelo seco e menos de 24 horas após a coleta.
- Tecidos Obtenção da amostra: necropsia ou viscerotomia ou usando agulha de biópsia – Fragmento de 1 cm, coleta: Logo após o óbito (menos de 12 horas e máximo de 24 horas), armazenar a – 70 º C – Freezer ou nitrogênio líquido, transporte em Nitrogênio líquido ou gelo seco e menos de 24 horas após a coleta.
Sorológico
Coleta – Sangue/soro – Obtenção da amostra: punção venosa ou punção intracardíaca (óbito), Crianças: 2-5mL Adultos: 10mL, para S1: após o 5º dia de doença. para S2: 14 a 21 dias após S1. S: amostra única após o 5º dia de doença, armazenar a – 20 º C – Freezer, e transporte em Gelox ou gelo seco.
Histopatológico e ImunoHistoquímica
Tecido Obtenção da amostra: necropsia ou viscerotomia ou usando agulha de biópsia, armazenar – Temperatura ambiente, em formalina tamponada, transporte em temperatura ambiente até 24 horas.
Laboratórios de referência regional e nacional
Laboratório de Referência Nacional:
IEC/PA (MacELISA, PCR, Isolamento Viral, Sequenciamento).
Laboratórios de Referência Regional:
IEC/PA (MacELISA, PCR, Isolamento Viral, Sequenciamento): AC, AM, RO, RR, PA, AP, AL, TO, PI, PE.
FIOCRUZ/RJ (MacELISA, PCR, Isolamento Viral, Sequenciamento): RJ, ES, BA, RN, CE, MG (MacELISA, Isolamento Viral).
LACEN/DF (MacELISA, PCR): DF, GO (MacELISA, Isolamento Viral), MT, MS, PB
IAL/SP (MacELISA, PCR, Histopatológico e imuno-histoquimico): SP, PR, SC, RS (MacELISA), SE, MA.
Febre Amarela – Vacinação
No Brasil estão disponíveis duas vacinas, a produzida por Biomanguinhos – Fiocruz, utilizada pela rede pública e a produzida pela Sanofi Pasteur, utilizada pela rede privada.
Ambas compostas de vírus vacinal amarílico vivo atenuado cultivado em ovo de galinha e podem conter em sua formulação sacarose, glutamato, sorbitol, gelatina bovina, eritromicina, canamicina, cloridrato de L-histidina, L-alanina, cloreto de sódio e água para injeção.
A eficácia estimada dessas vacinas é de 95%.
Veja mais detalhes da vacinação nas recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações.