Sobre a Sífilis comentei em um texto abordando o problema “VDRL, exame para diagnosticar sífilis pode apresentar falso positivo“. Frequentemente surge questões como a que abordou o colega Roberto, dizendo: “Já tenho esse problema desde 1994, doei sangue e fui informado que o vdrl estava em 1:256. Fiz o tratamento com injeções de benzetacil e comecei a fazer exames periódicos de três em três anos e sempre da resultado valor de 1:16, repito todas as vezes o tratamento a pedido dos médicos e quando vou realizar o exame da 1:16. Significa que não estou curado ou é normal? Vou citar alguns pontos importantes sobre a sífilis e no final explico o motivo do exame VDRL continuar positivo.
Sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível – IST, causada pela bactéria Treponema pallidum. Esta doença se apresenta por meio de várias condições clínicas e em diferentes estágios, podendo ser sífilis primária, secundária, latente e terciária. Frequentemente no estágios primário e secundário da doença, a possibilidade de transmissão é maior. A sífilis pode ser transmitida através de relação sexual sem uso do preservativo com uma pessoa infectada, também pode ocorrer transmissão da mãe infectada, para a criança, durante a gestação ou no momento do parto.
Como saber se a pessoa tem sífilis – sintomas, sinais e exames laboratoriais
Vamos observar os principais sinais e sintomas que podem ser vistos na sífilis, primária, secundária, latente, e terciária segundo o MS.
Sinais e sintomas da sífilis
Na sífilis primária – Com ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria podendo ser no órgão sexual masculino ou feminino, boca, ou outros locais da pele, normalmente surge por volta de 10 a 90 dias após o contágio. Não dói, não coça, não arde e não tem pus, podendo estar acompanhada de ínguas que são caroços na virilha.
Na sífilis secundária – Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento da ferida inicial e após a cicatrização espontânea. Manchas no corpo, principalmente, nas palmas das mãos e plantas dos pés. Não coçam, mas podem surgir ínguas no corpo.
Na sífilis latente – fase assintomática – Não aparecem sinais ou sintomas. É dividida em sífilis latente recente (menos de um ano de infecção) e sífilis latente tardia (mais de um ano de infecção). A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.
Na sífilis terciária – Pode surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção. Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.
Características laboratoriais da sífilis
Na Sífilis primária as reações sorológicas treponêmicas FTA-abs, para sífilis tornam-se positivas a partir da 3ª semana de infecção.
E as reações sorológicas não treponêmicas VDRL, tornam-se positivas a partir da 4º ou 5º semana após o contágio.
Na sífilis secundária e sífilis tardia as reações sorológicas são sempre positivas.
Está disponível também na rede de saúde do SUS o teste rápido para sífilis, por exemplo, no CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento de sua cidade, o resultado é rápido e o tratamento iniciado logo depois, caso seja positivo.
Outro caso importante relatar, ocorre quando o homem ou a mulher apresenta resultado positivo para sífilis adquirida, gerando desconfiança do companheiro ou companheira, pois a transmissão é predominantemente sexual, mas a transmissão extragenital, pode ocorrer, apesar de ser rara.
Quanto ao exame de escolha para diagnóstico da sífilis, quando sintomas existem, ou para triagem em gestantes, é o VDRL, mas pode ocorrer falso positivo, o laudo é liberado com resultado em diluições 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, 1/32, 1/64, 1/128, 1/256, 1/512 e assim por diante.
Para acompanhar o tratamento também usamos como método de eleição o VDRL, e vamos comentar sobre este caso.
No caso de gestantes, se o T. pallidum, espiroqueta causadora da sífilis, estiver circulando no sangue desta mulher, vai atravessar a barreira placentária e penetrar na corrente sanguínea do feto, em qualquer momento da gestação, sendo mais “forte” quanto mais recente a mãe pegou a doença. O ideal é realizar o teste VDRL no 1º trimestre da gravidez ou na 1ª consulta, e outro, no início do 3º trimestre (MS).
Em casos suspeitos de um falso positivo, em diluições baixas, sem sintomas e evidências da doença, o teste que deverá ser realizado é o FTA-abs, que tem alta sensibilidade e especificidade, sendo o primeiro a positivar na infecção, porém não é útil para acompanhar o tratamento, pois vai continuar positivo por toda vida.
O tratamento da sífilis preconizado pelo Ministério da Saúde
Penicilina G benzatina, 2.400.000UI, IM, dose única (1.200.000UI, em cada glúteo). Sífilis recente secundária e latente: Penicilina G benzatina, 2.400.000UI, IM, 1 vez por semana, 2 semanas (dose total de 4.800.000UI). Sífilis tardia (latente e terciária): Penicilina G benzatina, 2.400.000UI, IM, 1 vez por semana, 3 semanas (dose total de 7.200.000UI).
Citei o tratamento do MS, mas este é um critério médico.
Mesmo após tomar injeções de benzetacil VDRL ainda é positivo, veja se é normal
Muitos questionamentos surgem em outros textos sobre o assunto, dois deles citei no início, indagam se o tratamento não surtiu efeito – Após ter tomado injeções de benzetacil, quando realizado novo exame de sangue o resultado do VDRL continuou positivo”.
Depois de realizar o tratamento para sífilis o médico vai pedir para fazer novamente o VDRL, normalmente recomenda-se a realização a cada seis meses, até o final do segundo ano após o tratamento.
Para avaliar se o paciente ficou curado após o tratamento realizado é verificado se os sintomas desapareceram, e se ocorreu uma redução de pelo menos 4 titulações no exame VDRL.
Segundo a literatura, os títulos diminuem cerca de quatro vezes após três meses, e oito vezes aos seis meses após o tratamento. Outros autores relataram que o teste permaneceu reagente nas seguintes percentagens, de acordo com o tempo de tratamento:
Pacientes tratados com sífilis primária – Tempo 6 meses (16,5%), 12 meses (11,4%), 30 meses (6,6%).
Pacientes tratados com sífilis secundária Tempo 6 meses (27,6%) 12 meses (17,0%), 30 meses (8,4%).
Resultados dos exames após tratamento
Para a maioria dos usuários tratados, espera-se que haja reversão dos resultados, e que os testes tornem-se não reagentes entre 6 e 30 meses após o tratamento.
Após ter tomado as injeções de benzetacil é importante saber que o VDRL irá apresentar queda gradual do número de diluições, o título vai reduzir, podendo desaparecer, mas geralmente permanece com resultado positivo em títulos baixos por longos períodos.
Quanto mais precoce for o tratamento após a infecção, mais rapidamente haverá desaparecimento dos anticorpos circulantes, com a consequente negativação do VDRL ou ainda sua estabilização em títulos baixos.
Entretanto, na sífilis tratada tardiamente os testes podem nunca se negativar, persistindo a detecção de anticorpos em títulos baixos. A sorologia quando se apresenta repetidamente reagente em títulos baixos em usuários corretamente tratados não tem significado clínico.
É um erro considerar títulos baixos apenas como cicatriz sorológica ou como reação falsamente positiva. Só é possível determinar que se trata de cicatriz sorológica quando for comprovado que o usuário teve sífilis e realizou tratamento adequado.