Reportagem na revista Superinteressante, do mês de agosto, apresenta os bastidores sobre como 16 pacientes venceram o HIV, onde grupos de pesquisadores comprovaram que é possível expulsar o HIV de seus esconderijos e jogá-los de volta na corrente sanguínea de onde ele poderia ser eliminado, livrando completamente o vírus do organismo. Reportagem que tem boa qualidade, mas a capa e alguns fatos, na concepção de muitas pessoas e de vários pesquisadores podem ter sido prejudicial para as políticas de controle da doença.
A Reportagem repercutiu de forma prejudicial no que tange ao controle e prevenção da doença, por abordar o fato com uma capa que leva a crer que a cura realmente chegou para todos, e agora podem ter a solução para o problema imediatamente, mas que na realidade trata de fatos que já existiam, praticamente nada de novo foi apresentado, como comenta o ativista e editor do Boletim Vacinas Anti HIV/Aids, Jorge Beloqui.
Abordaram que, ainda em 2006, com o medicamento Vorinostat, criado para tratar o linfoma cutâneo de células T, um câncer no sistema imunológico, mas recentemente passou a ser usado em pesquisas para despertar as células T adormecidas de portadores do HIV. Com isso, as cópias do vírus escondidas acordaram e ficaram vulneráveis à ação dos antirretrovirais.
Para o infectologista e professor da Universidade Federal de São Paulo Esper Kallás, a reportagem é sensacionalista. “A cura nunca esteve tão próxima, segundo a reportagem, mas isso ainda não é uma realidade”.
Este mesmo professor, explica sobre o Vorinostat: “Esse medicamento não pode ser usado na cura da aids. Essa droga já foi testada em estudos experimentais em macacos e apresentou uma grande toxidade”.
Outra técnica é o transplante, o norte-americano Timothy Ray Brown recebeu, em 2009, a medula de uma mulher que não produzia a proteína CCR5. E sem essa proteína, o vírus HIV não conseguiu entrar nas células, fazendo com que o paciente pudesse parar de tomar os medicamentos antirretrovirais sem que a doença se desenvolvesse. Brown, conhecido como “Paciente de Berlim”, foi considerado o primeiro a se curar da aids.
Estudiosos do Instituto Pasteur, em Paris, apresentaram a cura funcional de 14 pacientes franceses portadores do HIV. Ou seja, ainda carregam o vírus, mas não desenvolvem aids, mesmo tendo parado de tomar o coquetel antirretroviral. Esses pacientes começaram a tomar os remédios antiaids no máximo 70 dias depois da infecção, o que limitou a entrada do vírus nos esconderijos, permitindo que depois de alguns anos em tratamento antirretroviral, o coquetel fosse interrompido e o vírus deixasse de se replicar.
Na reportagem abordam ainda que existe uma nova frente promissora em relação à cura da aids. A ideia é modificar geneticamente o corpo humano para torná-lo resistente ao vírus. A técnica já foi testada em alguns algumas pessoas, como no paciente de Trenton (EUA). Ele recebeu as células modificadas e parou de tomar os antirretrovirais. Num primeiro momento, a quantidade de vírus no sangue dele disparou. Mas em seguida despencou, até zerar.
Mas estas ainda não são soluções definitivas para a cura da AIDS em todas as situações, alias algumas delas nem se mostram realmente eficazes e outras estão sendo contestadas por pesquisadores.
Gean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas de São Paulo, considera que temos que ser cautelosos quando o assunto é a cura da aids. “Os estudos indicam algumas possibilidades em situações especiais, mas não é algo que podemos estender para todas as pessoas infectadas pelo vírus HIV”.
Podemos observar que reportagens como essas pouco ajudam, quando o infectologista José Valdez Madruga, do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo (CRT), conta que depois da publicação vários pacientes já o procuraram para dizer que querem tomar o Vorinostat, mas ele tem explicado que, apesar dos estudos, esse remédio não é capaz de curar a aids.
Dr. José Valdez completa, a reportagem é boa, mas a cura não chegou ainda. “É importante manter a expectativa de cura, pois há cinco anos não tínhamos perspectivas nesse sentido. Hoje, alguns estudos já apresentaram bons resultados, mas existe apenas a cura funcional quando o paciente é tratado precocemente, e não a cura real”, comentou.
Isso provavelmente pode estar refletindo no momento de usar preservativos também, pessoas deixando de usar por pensar que não é mais necessário, “a AIDS já tem cura mesmo”.
Porém, mesmo sabendo de alguns casos relatados de eliminação do vírus HIV e cura a AIDS, além de pesquisas promissoras com novos medicamentos, jamais abandone a prática de sexo seguro, uso da camisinha, prevenção é oficialmente e comprovadamente o melhor meio, por enquanto, disponível para evitar contrair o vírus.
Outra coisa importante, que o infectologista Gean Gorinchteyn reforça, a prevenção e a adesão ao tratamento antirretroviral ainda são as melhores armas na luta contra o HIV. “Para conseguir bons resultados, o paciente soropositivo precisa não só de medicações adequadas, mas do uso regular delas, assim o tratamento será um sucesso”.