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OMS e Anvisa investigam defeitos congênitos do tubo neural do medicamento Antirretroviral dolutegravir

O medicamento pode estar causando defeitos no tubo neural em bebês concebidos quando suas mães estavam tomando o antirretroviral conhecido como dolutegravir. Anvisa e a OMS Organização Mundial de Saúde estão analisando se existe uma ligação entre o uso do antirretroviral dolutegravir na gravidez e um defeito no tubo neural em fetos.

Uma nota informativa de órgãos do ministério da saúde recomendou neste ano a substituição de esquemas de terapia antirretroviral pelo dolutegravir, mas a troca deve acontecer nas situações em que há vantagens para o usuário, como a diminuição de eventos adversos entre outras. Entretanto, estudo realizado recentemente e em andamento em Botsuana, encontrou 4 casos de defeitos do tubo neural dentre 426 mulheres que engravidaram enquanto tomavam Dolutegravir.

O tubo Neural

No primeiro mês de vida de um embrião, inicia o crescimento de certa estrutura de tecido primitivo conhecida como tubo neural.

Conforme o embrião se desenvolve, o tubo neural se transforma em uma estrutura mais complexa de tecidos, nervos e ossos, o qual dará origem a coluna vertebral e o sistema nervoso.

Alguns defeitos conhecidos que ocorrem no tubo neural são evitados ou amenizados com o uso de ácido fólico, indicado tomar três meses antes de se tentar engravidar.

Em 0,1% dos nascidos vivos ocorre má-formação no tubo neural; porém, o estudo identificou um aumento para 0,9% da prevalência da anomalia.

Entretanto não é possível ainda afirmar que possa realmente ter relação com o medicamento dolutegravir.

Acompanhe abaixo a tradução da carta da OMS

Declaração sobre o dolutegravir (DTG) – Genebra, 18 de maio de 2018

Potencial questão de segurança que afeta mulheres com HIV usando dolutegravir no momento da concepção

O investigador de um estudo independente, financiado pelo NIH, identificou um possível problema de segurança com o medicamento anti-retroviral dolutegravir (DTG), e reportou à Organização Mundial de Saúde (OMS) e à ViiV Healthcare. A potencial questão de segurança está relacionada a defeitos do tubo neural em bebês nascidos de mulheres que estavam tomando DTG no momento da concepção.

A questão foi identificada a partir de uma análise preliminar não programada de um estudo observacional em andamento em Botsuana, que encontrou 4 casos de defeitos do tubo neural dentre 426 mulheres que engravidaram enquanto tomavam DTG. Essa taxa de aproximadamente 0,9% se compara a um risco de 0,1% de defeitos do tubo neural em bebês nascidos de mulheres que estão tomando outros medicamentos antirretrovirais no momento da concepção.

Detalhes sobre as conclusões preliminares sobre a potencial questão de segurança

Dados preliminares do estudo acima mencionado em Botswana, até este momento, parecem sugerir que a questão de segurança potencial surge da exposição de uma mulher ao DTG no momento da concepção, em vez de durante a gravidez. A partir do mesmo estudo, não há atualmente nenhuma evidência de qualquer criança nascida com um defeito do tubo neural a partir de uma mulher que iniciou o DTG durante a gravidez.

O Monitoramento está em curso para outras mulheres grávidas em Botsuana que foram expostas ao DTG no momento da concepção. Os desfechos serão acompanhados de perto nos próximos 9 meses (maio de 2018 – fevereiro de 2019), e os resultados deverão ser conhecidos logo em seguida. Esses dados fornecerão mais informações sobre a segurança do DTG para mulheres em idade fértil.

De acordo com o fabricante ViiV Healthcare, o DTG foi testado em um pacote completo de estudos toxicológicos reprodutivos, incluindo estudos de desenvolvimento embriofetal em ratos e coelhos, nos quais a dose foi administrada durante o período crítico para ocorrência de defeitos do tubo neural nessas espécies. Não houve evidência de resultados adversos no desfecho desses estudos.

Resposta da OMS

A OMS reconhece que o dolutegravir (DTG) tem eficácia e tolerabilidade bem estabelecidas e uma alta barreira genética à resistência.

As atuais Diretrizes da OMS, divulgadas em 2016, alertaram que havia dados insuficientes para o uso de DTG durante a gravidez e amamentação e recomendaram o efavirenz (EFV) em combinação com tenofovir (TDF) + lamivudina (3TC) ou emtricitabina (FTC) como a opção preferencial na gravidez.

A OMS convocou grupo de desenvolvimento de diretrizes para uma reunião entre 16 e 18 de maio de 2018 para análisar todos os dados disponíveis sobre os dados de eficácia e segurança do dolutegravir, incluindo os dados de Botsuana, e divulgará orientações atualizadas sobre o papel do DTG na primiera e segunda linha de tratamento do HIV nos próximos meses.

Enquanto isso, a OMS aconselha que os países e ministérios sigam as Diretrizes Consolidadas de Terapia Anti-retroviral da OMS de 2016 e considerem o seguinte:

– Mulheres grávidas que estão tomando DTG não devem interromper a terapia anti-retroviral e devem falar com seu médico para orientação adicional.

– A terapia anti-retroviral (ARV) para mulheres em idade fértil, incluindo mulheres grávidas, deve basear-se em medicamentos para os quais estejam disponíveis dados de eficácia e segurança adequados; um regime à base de efavirenz é um regime de primeira linha seguro e eficaz.

– Se outros anti-retrovirais de primeira linha não puderem ser usados em mulheres em idade fértil, o DTG pode ser considerado nos casos em que a contracepção consistente possa ser assegurada.

– Os programas devem continuar fortalecendo a farmacovigilância, incluindo o monitoramento dos desfechos dos nascimentos.

Mais detalhes sobre o caso

No Brasil, o dolutegravir está disponível sob o nome comercial de Tivicay (dolutegravir 50 mg) ou Triumeq (dolutegravir 50 mg + abacavir 600 mg + lamivudina 300 mg).

Até que consigam esclarecer o problema, a recomendação é de não usar o medicamento no primeiro trimestre da gestação.

Silvano Vilela
Silvano Vilelahttps://www.plugbr.net/about/
Farmacêutico Bioquímico. Escreve sobre exames laboratoriais, testes de farmácia e tecnologia em saúde. Compartilha neste site que fundou em 2006 as experiências adquiridas dentro de um hospital.
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