Frequentemente recebo comentários nos posts de assuntos relacionados a HIV e AIDS, vários deles são uma lição de vida, ou nos fazem pensar e rever alguns conceitos relativos a está doença que ainda carrega consigo um grande estigma. Vou compartilhar alguns destes relatos de casos, experiências vividas, escritas neste blog. Desta vez serão 4 breves histórias.
1) M. I – Descobri a pouco mais de um ano ser soropositiva, não contei pro meu namorado, tive crises nervosas, pensei que ia enlouquecer, ele e minhas filhas pensavam que era algo tipo tpm, terminamos, ele casou, e nao sabe que esta infectado, sou uma mulher bonita, festeira, adoro sexo. Não conto para os meus parceiros, alguns tiram a camisinha, outros dizem que deus é que sabe quem pega ou não, sempre peço para usar,digo que qualquer pessoa pode estar infectado, mas nao adianta, o medo de broxar é maior, não sei o que fazer, acho que vou para o inferno. É uma bola de neve, a angústia e o peso da consciência é que vão me matar.
É uma bola de neve, a angústia e o peso da consciência é que vão me matar.
2) L.C – Convivo com meu irmão que tem aids, uma doença que mudou a vida dele e a minha, jamais abandonei meu irmão, hoje ele só tem a mim, juntos estamos lutando, acredito e ele também que terá muitos anos de vida pela frente, está tomando medicamentos, e hoje vive sem problemas, mas o que dificulta é o preconceito, este sim, mata. Mas ele está se acostumando a conviver com o vírus e com o preconceito. Descobriu cedo que tinha a doença, por isso acho que teve tempo de começar logo a defesa contra o vírus e contra a intolerância de muitas pessoas. Pense numa coisa: reveja sua vida hoje, não espere algo como esta doença chegar, ou algum outro problema para fazer você mudar, melhorar, você pode fazer isso sem isso acontecer, acredite! Faça!
Está tomando medicamentos, e hoje vive sem problemas, mas o que dificulta é o preconceito, este sim, mata.
3) R. A – Eu apenas gostaria de chamar a atenção para todas as pessoas que tiveram algum tipo de relação sexual desprotegida. Fiz sexo oral com um outro homem e houve tentativa de penetração, sem proteção. Após o fato me veio o desespero da possibilidade ter contraído algum tipo de vírus, […] Qualquer dorzinha que eu sentia, qualquer indisposição eu via como um sintoma da doença. O stress e a ansiedade foram tamanhas que mudaram radicalmente meu sistema digestório, evacuando fezes moles, dores de estômago, cansaço, dores de cabeça, e tudo mais. […] ouvi casos de pessoas que morreram devido a saúde debilitada por causa do HIV… minha vida estava um caos!!! Após quatro meses suportando o medo de ter alguma doença e ter transmitido a outras pessoas um fato inusitado aconteceu – apareceram manchas na pele (eu havia lido que isso poderia acontecer) – e me obrigou a ir até a um posto de saúde e solicitar o exame. Foram mais 14 dias de agonia e espera. Então com o resultado em mãos, a enfermeira abriu o envelope e a papelada e começou a ler. Parecia uma eternidade. Minha vida poderia acabar logo ali, então ela me disse que os exames de HIV, sífilis e Hepatite deram NEGATIVO. […] não senti mais nada. Foi um alívio gigantesco. Com lágrimas agradeci a Deus pela oportunidade de continuar a viver normalmente. Se eu estivesse com o vírus, minha vida particular e social iriam mudar drasticamente, mas é fato que eu agi errado fazendo uma relação desprotegida. Não façam isso em hipótese alguma! Não façam sexo oral desprotegido. Caso aconteça, FAÇAM O EXAME! Nada irá aliviar a tensão enquanto não fizer o exame. Se a camisinha estourou, se havia um pequeno corte no lábio, se houve um pequeno sangramento na região genital, se houve contato com secreções seminais… qualquer coisa… FAÇAM O EXAME sem medo. Criem coragem e façam o teste!!! A doutora não tem poderes para dizer se a pessoa tem ou não o vírus. Somente o exame sorológico irá mostrar isso. Espere a janela imunológica e respirem fundo. É isso! Obrigado pela oportunidade!
A doutora não tem poderes para dizer se a pessoa tem ou não o vírus. Somente o exame sorológico irá mostrar isso.
4) F.T – Tenho a doença, a vida muda completamente, tudo transforma, situações antes normais passam a ser complexas, a família abandona, os amigos se afastam e mesmo aqueles que ficam perto, criam uma barreira, a vida passa a ser você e você mesmo, não existe mais planos, o amanhã é apenas uma vontade que tenho de acontecer, de chegar lá, de estar presente neste dia, viver aquele momento, a cada minuto, o desafio é viver para estar presente no dia de amanhã, nada mais, sem sonhos de consumo, de bens, de dinheiro. A minha cabeça parece um redemoinho, não sei se continuo ou me entrego.
A família abandona, os amigos se afastam e mesmo aqueles que ficam perto, criam uma barreira.
Quem trabalha na saúde conhece muitos destes relatos, muitos destes questionamentos, conhece o rosto da doença, a angústia da família, aprendemos a não acusar, não apontar, não julgar, apenas apoiar quando for preciso, não necessitam de piedade, apenas igualdade.